Há
muito tempo, sim, que não te escrevo.
Ficaram
velhas todas as notícias.
Eu
mesmo envelheci: Olha, em relevo,
estes
sinais em mim, não das carícias
(tão
leves) que fazias no meu rosto:
são
golpes, são espinhos, são lembranças
da
vida a teu menino, que ao sol-posto
perde
a sabedoria das crianças.
A
falta que me fazes não é tanto
À
hora de dormir, quando dizias
“Deus
te abençoe”, e a noite abria em sonho.
É
quando, ao despertar, revejo a um canto
a
noite acumulada de meus dias,
e
sinto que estou vivo, e que não sonho.
Carlos
Drummond de Andrade
Do
livro “Lição de Coisas”,
Livraria
José Olympio Editora, Rio, 1962
Fonte: http://poeticaecotidiana
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