A
sombra imensa, a noite infinita enche o vale…
E
lá no fundo vem a voz
Humilde
e lamentosa
Dos
pássaros da treva. Em nós,
-
Em noss’alma criminosa,
O
pavor se insinua…
Um
carneiro bale.
Ouvem-se
pios funerais.
Um
como grande e doloroso arquejo
Corta
a amplidão que a amplidão continua…
E
cadentes, metálicos, pontuais,
Os
tanoeiros do brejo,
-
Os vigias da noite silenciosa,
Malham
nos aguaçais.
Pouco
a pouco, porém, a muralha de treva
Vai
perdendo a espessura, e em breve se adelgaça
Como
um diáfano crepe, atrás do qual se eleve
A
sombria massa
Das
serranias.
O
plenilúnio vai romper…Já da penumbra
Lentamente
reslumbra
A
paisagem de grandes árvores dormentes.
E
cambiantes sutis, tonalidades fugidias,
Tintas
deliquescentes
Mancham
para o levante as nuvens langorosas.
Enfim,
cheia, serena, pura,
Como
uma hóstia de luz erguida no horizonte,
fazendo
levantar a fronte
Dos
poetas e das almas amorosas,
Dissipando
o temor nas consciências medrosas
E
frustrando a emboscada a espiar na noite escura,
-
A Lua
Assoma
à crista da montanha.
Em
sua luz se banha
A
solidão cheia de vozes que segredam…
Em
voluptuoso espreguiçar de forma nua
As
névoas enveredam
No
vale. São como alvas, longas charpas
Suspensas
no ar ao longo das escarpas.
Lembram
os rebanhos de carneiros
Quando,
fugindo
ao sol a pino,
Buscam
oitões, adros hospitaleiros
E
lá quedam tranqüilos ruminando…
Assim
a névoa azul paira sonhando…
As
estrelas sorriem de escutar
As
baladas atrozes
Dos
sapos.
E
o luar úmido…fino…
Amávico…tutelar…
Anima
e transfigura a solidão cheia de vozes…
Manuel Bandeira
Nenhum comentário:
Postar um comentário