terça-feira, 11 de agosto de 2015

Desiludida


VI

Sou como a corça ferida
Que vai, sedenta e arquejante,
Gastando uns restos de vida
Em busca da água distante.

Bem sei que já me não ama,
E sigo, amorosa e aflita,
Essa voz que não me chama,
Esse olhar que não me fita.

Bem reconheço a loucura
Deste amor abandonado
Que se abre em flor, e procura
Viver de um sonho acabado;

E é como a corça ferida
Que vai, sedenta e arquejante,
Gastando uns restos de vida
Em busca da água distante:

Só, perdido no deserto,
Segue em pós do seu carinho:
Vai só arrastando... e vai certo
Que morre pelo caminho.

Vicente de Carvalho

In Rosa, Rosa de Amor, 1923

Nenhum comentário: