Todas
as prendas que me deste, um dia,
Guardei-as,
meu encanto, quase a medo,
E
quando a noite espreita o pôr-do-sol,
Eu
vou falar com elas em segredo ...
E
falo-lhes d'amores e de ilusões,
Choro
e rio com elas, mansamente...
Pouco
a pouco o perfume do outrora
Flutua
em volta delas, docemente ...
Pelo
copinho de cristal e prata
Bebo
uma saudade estranha e vaga,
Uma
saudade imensa e infinita
Que,
triste, me deslumbra e m'embriaga
O
espelho de prata cinzelada,
A
doce oferta que eu amava tanto,
Que
refletia outrora tantos risos,
E
agora reflete apenas pranto,
E
o colar de pedras preciosas,
De
lágrimas e estrelas constelado,
Resumem
em seus brilhos o que tenho
De
vago e de feliz no meu passado...
Mas
de todas as prendas, a mais rara,
Aquela
que mais fala à fantasia,
São
as folhas daquela rosa branca
Que
a meus pés desfolhaste, aquele dia...
Florbela Espanca
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