terça-feira, 11 de agosto de 2015

Silêncio


Nas mãos inquietas
Cansadas esperanças
Tateando formas na luz ausente,
Nos olhos embrumados
A viva cruz do alívio,
Na boca imobilizada
A palavra amortalhada.
E à tona da fugaz realidade
O mistério das surpresas superadas.
Paisagem de espaços, e fantasmas
Ordenam não falar, não morrer,
Ouvir sem conduzir o pensamento,
Viver os vazios lúcidos
Entre a palavra e o som
Do coração a bater.
Resta apenas a flutuação ociosa
Livre das coisas da memória, da discordância
Das idéias obsessivas
Que escondidas estavam
Como fantásticos tesouros
Em frágeis e indefesas mãos.

Adalgisa Nery

In Erosão, 1973 

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