Orgulho, vaidade,
despeito, rancor, tudo passa, se verdadeiramente o homem tem dentro de si um
autêntico sonho de amor. Essas pequenas misérias são fatais apenas no começo,
na puberdade, quando se olha uma janela e se desflora quem está lá dentro.
Depois, não. Depois, sofre-se é pelo homem, é pela estupidez colectiva, é por
não se poder continuar alegremente num mundo povoado, e se desejar um deserto de
asceta. O ascetismo é a desumanização, é o adeus à vida, e é duro ser uma
espécie de fantasma da cultura cercado de areias.
Miguel Torga, in "Diário (1948)"
Miguel Torga, in "Diário (1948)"
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