quinta-feira, 8 de outubro de 2015

A Vida Anterior


Muito tempo habitei sob átrios colossais
Que o sol marinho em labaredas envolvia,
E cuja colunata majestosa e esguia
À noite semelhava grutas abissais.

O mar, que do alto céu a imagem devolvia,
Fundia em místicos e hieráticos rituais
As vibrações de seus acordes orquestrais
À cor do poente que nos olhos meus ardia.

Ali foi que vivi entre volúpias calmas,
Em pleno azul, ao pé das vagas, dos fulgores,
E dos escravos nus impregnados de odores,

Que a fronte me abanavam com as suas palmas,
E cujo único intento era o de aprofundar
O oculto mas que me fazia definhar.

Charles Baudelaire
(Tradução de Guilherme de Almeida e Ivan Junqueira)

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