quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Três poemas de Carlos Drummond de Andrade são descobertos em SP


Textos desconhecidos foram publicados na revista “Raça”, de São Carlos, em 1929

Uma aluna do curso de Letras da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), no interior de São Paulo, encontrou três poemas desconhecidos do poeta, contista e cronista Carlos Drummond de Andrade. As informações são do O Globo.

Mayra de Souza Fontebasseo descobriu os trabalhos do poeta enquanto realizava uma pesquisa de iniciação científica sobre textos literários publicados na revista “Raça”.

De acordo com a estudante, o estilo dos textos chamou a sua atenção, pois são escritos em prosa poética, com traços em tom melancólico, que caracterizam a escrita do mineiro em sua juventude.

Os poemas foram publicados em junho de 1929, mas há suspeitas de que tenham sido escritos no início da década de 1920.


A aluna e seu orientador consultaram a “Bibliografia Comentada de Carlos Drummond de Andrade (1918-1934)”, de Fernando Py; e o “Inventário Dummoniano”, da Fundação Casa de Rui Barbosa; porém nenhum dos três poemas constavam nas publicações.

O crítico Antônio Carlos Secchin, especialista na obra de Drummond, também chegou a ser consultado. Após análise, ele constatou que o material era, de fato, inédito.


Confira a íntegra de um dos textos recém-descobertos:

"O poema das mãos soluçantes, que se erguem num desejo e numa súplica”

Como são belas as tuas mãos, como são belas as tuas mãos pálidas como uma canção em surdina...

As tuas mãos dançam a dança incerta do desejo, e afagam, e beijam e apertam...

As tuas mãos procuram no alto a lâmpada invisível, a lâmpada que nunca será tocada...

As tuas mãos procuram no alto a flor silenciosa, a flor que nunca será colhida...

Como é bela a volúpia inútil de teus dedos...

O poema das mãos que não terão outras mãos numa tarde fria de Junho

Pobres das mãos viúvas, mãos compridas e desoladas, que procuram em vão, desejam em vão...

Há em torno a elas a tristeza infinita de qualquer coisa que se perdeu para sempre...

E as mãos viúvas se encarquilham, trêmulas, cheias de rugas, vazias de outras mãos...

E as mãos viúvas tateiam, insones, − as friorentas mãos viúvas...

O poema dos olhos que adormeceram vendo a beleza da terra

Tudo eles viram, viram as águas quietas e suaves, as águas inquietas e sombrias...

E viram a alma das paisagens sob o outono, o voo dos pássaros vadios, e os crepúsculos sanguejantes...

E viram toda a beleza da terra, esparsa nas flores e nas nuvens, nos recantos de sombra e no dorso voluptuoso das colinas...

E a beleza da terra se fechou sobre eles e adormeceram vendo a beleza da terra...

"O poema das mãos soluçantes, que se erguem num desejo e numa súplica"

Como são belas as tuas mãos, como são belas as tuas mãos pálidas como uma canção em surdina...

As tuas mãos dançam a dança incerta do desejo, e afagam, e beijam e apertam...

As tuas mãos procuram no alto a lâmpada invisível, a lâmpada que nunca será tocada...

As tuas mãos procuram no alto a flor silenciosa, a flor que nunca será colhida...

Como é bela a volúpia inútil de teus dedos...

O poema das mãos que não terão outras mãos numa tarde fria de junho

Pobres das mãos viúvas, mãos compridas e desoladas, que procuram em vão, desejam em vão...

Há em torno a elas a tristeza infinita de qualquer coisa que se perdeu para sempre...

E as mãos viúvas se encarquilham, trêmulas, cheias de rugas, vazias de outras mãos...

E as mãos viúvas tateiam, insones, − as friorentas mãos viúvas...

O poema dos olhos que adormeceram vendo a beleza da terra

Tudo eles viram, viram as águas quietas e suaves, as águas inquietas e sombrias...

E viram a alma das paisagens sob o outono, o voo dos pássaros vadios, e os crepúsculos sanguejantes...

E viram toda a beleza da terra, esparsa nas flores e nas nuvens, nos recantos de sombra e no dorso voluptuoso das colinas...


E a beleza da terra se fechou sobre eles e adormeceram vendo a beleza da terra..."

Carlos Drummond de Andrade

Fonte: opovo.com.br/

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