Muito tempo habitei sob átrios colossais
Que o sol marinho em labaredas envolvia,
E cuja colunata majestosa e esguia
À noite semelhava grutas abissais.
O mar, que do alto céu a imagem devolvia,
Fundia em místicos e hieráticos rituais
As vibrações de seus acordes orquestrais
À cor do poente que nos olhos meus ardia.
Ali foi que vivi entre volúpias calmas,
Em pleno azul, ao pé das vagas, dos
fulgores,
E dos escravos nus impregnados de odores,
Que a fronte me abanavam com as suas
palmas,
E cujo único intento era o de aprofundar
O oculto mas que me fazia definhar.
Charles Baudelaire
(Tradução de Guilherme de Almeida e Ivan
Junqueira)
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