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quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Biografia de Jacques Prévert


Jacques Prévert nasceu em Neuilly-sur-Seine (França), em 1900.

Participou do movimento surrealista, em 1925, juntamente com Marcel Duhamel, Raymond Queneau e Yves Tanguy. Mas o poeta não se prendia a um só estilo.

Roteirista, Jacques escreveu vários filmes, que foram realizados entre 1935-1945. São eles: Drôle de Drame, Le Quai des Brumes, Hotel du Nord, Le Jour se Lève, Les Enfants du Paradis de Marcel Carné. Todos esses filmes são considerados obras-primas do realismo poético francês.

Além disso, os poemas escritos por Jacques são transformados em música, por Joseph Kosma, como a famosa “Les Feuilles Mortes”.

Em 1946, publicou sua primeira coletânea de poesias, “Paroles”, que alcançou enorme sucesso. Com isso, Jacques passa a ser reconhecido e seus poemas passam a ser estudados em várias escolas francesas.

Seu estilo é marcado por uma linguagem familiar, senso de humor e jogo de palavras. Jacques ironiza os usos e costumes frequentemente em seus escritos, assim como o clero e a igreja.

Jacques Prévert faleceu aos 77 anos, de câncer do pulmão.

Fonte: http://pensador.uol

As Folhas Mortas


Oh! Gostaria tanto que você se lembrasse
Dos dias felizes onde nos éramos amigos
Naquele tempo a vida era mais bela
E o sol mais brilhante do que é hoje
As folhas mortas juntamos com a pá
Você vê, eu não me esqueci
As folhas mortas juntamos com a pá
As lembranças e os arrependimentos também.
E o vento do norte leva-as.
Na noite fria do esquecimento
Você vê, eu não me esqueci
A canção que você me cantava.

É uma canção que é semelhante a nós.
Você, que me amava e eu te amava.
E nós vivíamos sempre juntos
Você que me amava, eu que te amava.
Mas a vida separa aos que se amam.
Tão docemente, sem fazer barulho.
E o mar apaga sobre a areia
Os passos dos amantes separados

As folhas mortas juntamos com a pá
As lembranças e os arrependimentos também
Mas o meu amor, silencioso e fiel
Sempre sorri e é grato pela vida.
Eu te amei tanto, você estava tão bonita.
Como você espera que eu esqueça?
Naqueles dias, a vida era mais bonita
E o sol mais brilhante do que é hoje.
Você era meu doce amigo
Mas eu não tenho nenhum arrependimento
E a música que você cantou,
Sempre, sempre vou ouvi-la!

É uma canção que é semelhante a nós.
Você, que me amava e eu te amava.
E nós vivíamos sempre juntos
Você que me amava, eu que te amava.
Mas a vida separa aos que se amam.
Tão docemente, sem fazer barulho.
E o mar apaga sobre a areia
Os passos dos amantes separados

Jacques Prévert

E Deus expulsou Adão...


E Deus expulsou Adão com golpes de cana-de-açúcar
E assim fabricou o primeiro rum na terra

E Adão e Eva cambalearam
pelos vinhedos do Senhor
a Santíssima Trindade os encurralava
mesmo assim continuaram cantando
com voz infantil de tabuada
Deus e Deus quatro
Deus e Deus quatro
E a Santíssima Trindade chorava…
Por cima do triângulo isóscele e sagrado
um biângulo isopicante brilhava
e eclipsava o outro.

Jacques Prévert

Para fazer o retrato de um pássaro


Pinta primeiro uma gaiola
com a porta aberta
pinta a seguir
qualquer coisa bonita
qualquer coisa simples
qualquer coisa bela
qualquer coisa útil
para o pássaro.
agora encosta a tela a uma árvore
num jardim
num bosque
ou até numa floresta
esconde-te atrás da árvore
sem dizeres nada
sem te mexeres…
às vezes o pássaro não demora
mas pode também levar anos
antes que se decida.
Não deves desanimar
espera
espera anos se for preciso
a rapidez ou a lentidão da chegada
do pássaro não tem qualquer relação
com o acabamento do quadro.
Quando o pássaro chegar
se chegar
mergulha no mais fundo silêncio
espera que o pássaro entre na gaiola
e quando tiver entrado
fecha a porta devagarinho
com o pincel
depois
apaga uma a uma todas as grades
com cuidado não vás tocar nalguma das penas
Faz a seguir o retrato da árvore
escolhendo o mais belo dos ramos
para o pássaro
pinta também o verde da folhagem a frescura do vento
e agora espera que o pássaro se decida a cantar
se o pássaro não cantar
é mau sinal
é sinal que o quadro não presta
mas se cantar é bom sinal
sinal de que podes assinar
então arranca com muito cuidado
uma das penas do pássaro
e escreve o teu nome num canto do quadro.

Jacques Prévert
Tradução: Silviano Santiago

Café da Manhã


Pôs café
na xícara
Pôs leite
na xícara com café
Pôs açúcar
no café com leite
Com a colherzinha
mexeu
Bebeu o café com leite
E pôs a xícara no pires
Sem me falar
acendeu
um cigarro
Fez círculos
com a fumaça
Pôs as cinzas
no cinzeiro
Sem me falar
Sem me olhar
Levantou-se
Pôs
o chapéu na cabeça
Vestiu
a capa de chuva
porque chovia
E saiu
debaixo de chuva
Sem uma palavra
Sem me olhar
Quanto a mim pus
a cabeça entre as mãos
E chorei.

Jacques Prévert 
Tradução: Silviano Santiago

O mau Aluno


Ele diz que não com a cabeça
Mas diz sim com o coração
Diz que sim ao que gosta
Diz que não ao professor
Está de pé
É questionado
Todos os problemas são apresentados
De repente, é apanhado por um ataque de riso
E apaga tudo
Os números e as palavras
As datas e os nomes
As frases e as armadilhas
E apesar das ameaças do mestre
Sob os apupos dos prodígios
Com giz de todas as cores
No quadro negro da infelicidade
Desenha o rosto da felicidade.


Jacques Prévert

Páginas de Escrita


Dois e dois quatro
quatro e quatro oito
oito e oito dezesseis…
Repitam! Diz o professor
Dois e dois quatro
quatro e quatro oito
oito e oito dezesseis.

Mas eis que o pássaro da poesia
passa no céu
a criança vê-o
a criança ouve-o
a criança chama-o:

Salva-me
brinca comigo
pássaro!
Então o pássaro desce
e brinca com a criança
Dois e dois quatro…

Repitam! Diz o professor
e a criança brinca
e o pássaro brinca com ela…
Quatro e quatro oito
oito e oito dezesseis
e dezesseis e dezesseis quanto é que faz?

Dezesseis e dezesseis não faz nada
e sobretudo não faz trinta e dois
e de qualquer maneira
eles vão-se embora.

A criança escondeu o pássaro
na sua carteira
e todas as crianças
ouvem a música
e oito e oito por sua vez também se vão
e quatro e quatro e dois e dois
por sua vez desaparecem

e um e um não fazem nem um nem dois
um e um também se vão dali.
E o pássaro da poesia brinca
e a criança canta
e o professor grita:
deixem de fazer palhaçadas!

Mas todas as outras crianças
escutam a música
e as paredes da sala
desmoronam-se tranquilamente.
E os vidros voltam a ser areia
a tinta volta a ser água
as carteiras voltam a ser árvores
o giz volta ser falésia
e a caneta volta a ser pássaro.

Jacques Prévert