Gosto desse teu ar tristonho,
desse olhar de melancolia,
mesmo nos momentos de prazer e de sonho,
ou nos instantes de amor e de alegria...
Gosto dessa tua expressão de ternura
com um brilho úmido a luzir num profundo langor...
Desse teu olhar de meiguice que me cativa e domina,
tu que dás sempre a impressão de quem precisa
Desse teu ar de menina, desse teu ar
Gosto de tua voz, tranqüila, do tom manso
com que falas, como se acariciasses
até as palavras que dizes;
de tua presença, que é assim como um quieto remanso,
um pedaço de sombra onde me abrigo
Gosto desse teu jeito calmo, sossegado,
com que te encostas em meu peito
entre ternuras e embaraços,
como se tudo ficasse, de repente, parado,
e teu mundo pudesse ser delimitado
Gosto de ti assim, pequenina, macia,
quando te aperto contra mim e te sinto
e tens um ar abandonado, como quem caminha
sonâmbula, por um estranho caminho
dos teus cabelos de tarde
dos teus olhos de remanso
onde me morro e descanso;
dos teus seios de ambrósias,
brancos manjares trementes
com dois vermelhos morangos
de teu ventre - uma enseada
- porto sem cais e sem mar -
branca areia à espera da onda
que em vaivém vai se espraiar;
de teu quadris, instrumento
de tantas curvas, convexo,
de tuas coxas que lembram
- do teu corpo só de alvuras
de tuas mãos, que são ninhos
de aconchegos e carinhos,
mãos angorás, que parecem
esses desejos da gente...
gosto de ti, toda, inteira
dos teus cabelos de tarde
aos teus pés de Cinderela,
(há dois pássaros inquietos
- gosto de ti, feiticeira,
J G de Araujo Jorge