Todas
as cousas que há neste mundo
Têm
uma história,
Excepto
estas rãs que coaxam no fundo
Da
minha memória.
Qualquer
lugar neste mundo tem
Um
onde estar,
Salvo
este charco de onde me vem
Esse
coaxar.
Ergue-se
em mim uma lua falsa
Sobre
juncais,
E
o charco emerge, que o luar realça
Menos
e mais.
Onde,
em que vida, de que maneira
Fui
o que lembro
Por
este coaxar das rãs na esteira
Do
que deslembro?
Nada.
Um silêncio entre jucos dorme.
Coaxam
ao fim
De
uma alma antiga que tenho enorme
As
rãs sem mim.
Fernando
Pessoa, 13-8-1933.
Fonte: http://www.insite.com.br
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