domingo, 16 de setembro de 2012

Tronco Deserto



Era um tronco florido entre o arvoredo:
Mal vinha a madrugada despontando,
Dele emanava um ruído muito brando
Como se fosse apenas um segredo.

Depois foi indo e se desenrolando,
Abriu-se em canto, e as árvores, com medo,
Quedaram-se, de súbito, escutando
Voz tão aguda, de manhã tão cedo.

Mas o tronco ficou abandonado
Porque a cigarra, ébria de firmamento,
Partiu cantando, boêmia e tagarela;

Hoje, que o dia é lindo e o céu doirado,
Ainda se escuta, quando passa o vento,
O som longínquo da cantiga dela.

Olegário Mariano (de Últimas Cigarras, 1920)


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