quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Enleio



Que é que vou dizer a você?
Não estudei ainda o código de amor.
Inventar, não posso.
Falar, não sei.
Balbuciar, não ouso.
Fico de olhos baixos espiando,
no chão, a formiga.
Você sentada na cadeira de palhinha.
Se ao menos você ficasse aí nessa posição,
perfeitamente imóvel, como está,
uns quinze anos (só isso)...
Então, eu diria:
Eu te amo.
Por enquanto sou apenas o menino
Diante da mulher que não percebe nada.
Será que você não entende?
Será que você é burra?

 Carlos Drummond de Andrade

In poesias completas, pg 1024

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