V
"Deixa-me,
fonte!" Dizia
A
flor, tonta de terror.
E
a fonte, sonora e fria
Cantava,
levando a flor.
"Deixa-me,
deixa-me, fonte!"
Dizia
a flor a chorar:
"Eu
fui nascida no monte...
"Não
me leves para o mar."
E
a fonte, rápida e fria,
Com
um sussurro zombador,
Por
sobre a areia corria,
Corria
levando a flor.
"Ai,
balanços do meu galho,
"Balanços
do berço meu;
"Ai,
claras gotas de orvalho
"Caídas
do azul do céu!..."
Chorava
a flor, e gemia,
Branca,
branca de terror.
E
a fonte, sonora e fria,
Rolava,
levando a flor.
"Adeus,
sombra das ramadas,
"Cantigas
do rouxinol;
"Ai,
festa das madrugadas,
"Doçuras
do pôr-do-sol;
"Carícias
das brisas leves
"Que
abrem rasgões de luar...
"Fonte,
fonte, não me leves,
"Não
me leves para o mar!"
As
correntezas da vida
E
os restos do meu amor
Resvalam
numa descida
Como
a da fonte e da flor...
Vicente
de Carvalho
In
Rosa, Rosa de Amor, 1923
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